Texto: “Exclua,
porém, o pátio exterior; não o meça, pois ele foi dado aos gentios. Eles
pisarão a cidade santa durante quarenta e dois meses” (Ap 11:2, NVI).
Muitas
traduções inglesas começam o verso 2 com “mas”. A palavra em grego, contudo,
não é um “mas” adversativo forte e deveria ser melhor traduzido como “e”. Isso
implica em que a exclusão é parte da medição, o que sugere que os gentios
(poderia ser traduzido como “nações”) mencionados no texto são realmente parte
do professo povo de Deus. Entre aqueles que professam ser seguidores de Deus, a
medição divide os verdadeiros seguidores daqueles que apenas declaram ser
seguidores. Isso introduz um tema importante que é trazido à tona em vários
contextos no Apocalipse. Um pouco antes da vinda de Jesus, Deus agirá de tal
maneira que dividirá o professo povo de Deus em dois grupos: seguidores
genuínos de Deus e um grupo excluído.
A
tradução “exclua” como em “exclua, porém, o pátio exterior” (Ap 11:2) está
baseada na palavra grega ekballe que foi utilizada grandemente para excomunhão
da sinagoga (veja a história do homem cego em Jo 9:34-35). Uma exclusão similar
tem lugar na última parte do Apocalipse onde a Nova Jerusalém funciona como um
templo (Ap 21:8, 27; 22:15). Em Apocalipse 11:1-2 isso significa excluir algo
que uma vez foi parte do todo. Em outras partes do Novo Testamento o povo fiel
de Deus é descrito como pedras vivas que são coletivamente construídas em um
templo de Deus (Ef 2:19-22; 1Pe 2:5-10). Assim “medir fora” os verdadeiros
cristãos entre os professos é parte dos eventos finais da história da terra. É
um processo de determinar quem entre os professos seguidores de Deus são dignos
de ser pedras em Seu templo espiritual, a verdadeira igreja. Uma vez que Deus
já conhece aqueles que são seus (2Tm 2:19), este processo é menos um decisão do
que tornar público o conhecimento que Deus já tem sobre o caráter de Seus
professos seguidores.
O pátio
externo dado aos gentios nos lembra do muro ao redor do próprio templo no
primeiro século. No Museu de Israel (em Jerusalém) pode-se ver um fragmento de
um dos marcadores de pedra nas aberturas do muro dizendo que “qualquer gentio
que passar deste ponto é responsável por sua própria morte que acontecerá
rapidamente”. O gentio não era bem-vindo
dentro do templo dos dias de Jesus! Assim, a linguagem deste texto, que o pátio
exterior era o lugar onde os gentios tinham permissão para adorar, encaixa-se
bem no contexto do primeiro século (Ap 11:1-2). A raiz grega para “exterior” ou
“fora” (exo) é usada novamente em Apocalipse 22:15, onde se retrata a exclusão
dos ímpios da recompensa da Nova Jerusalém. À luz do evangelho do Novo
Testamente então, os gentios neste texto não devem ser entendidos como
não-judeus num sentido étnico, mas como aqueles que rejeitaram o evangelho e
falharam em entrar num relacionamento com Jesus, o Messias Judeu.
A
palavra para “pisar” (de pateô) é significativa no Apocalipse. Seu uso aqui
antecipa os pisadores que são pisoteados no fim dos tempos. Os ímpios que pisam
a cidade santa aqui são pisoteados pela ira de Deus no Fim (Ap 14:20 e 19:15). Pisotear
também encontra um forte paralelo em Lucas. Em Lucas 21:24 é a cidade santa,
Jerusalém, que é pisada pelos gentios até que o tempo dos gentios se complete
(Lc 21:24). Uma vez que o pisar mencionado em Lucas começa depois da queda de
Jerusalém no primeiro século (Lc 21:20-24) e termina antes que os últimos
sinais” sejam mencionados (Lc 21:25-27), o “tempo dos gentios” em Lucas 21:24
parece ser mais ou menos equivalente ao período de 42 meses mencionado cinco
vezes de maneiras diferentes no Apocalipse (11:2-3; 12:6, 14; 13:5).
O pano
de fundo comum tanto para Apocalipse 11 e Lucas 21 (“pisar”) é encontrado em
vários versos em Daniel, onde o povo de Deus é pisado.
“Ele
falará contra o Altíssimo, oprimirá os seus santos e tentará mudar os tempos e
as leis. Os santos serão entregues nas mãos dele por um tempo, tempos e meio
tempo’” (Dn 7:25).
“Então
ouvi dois anjos conversando, e um deles perguntou ao outro: ‘Quanto tempo
durarão os acontecimentos anunciados por essa visão? Até quando será suprimido
o sacrifício diário e a rebelião devastadora prevalecerá? Até quando o
santuário e o exército ficarão entregues ao poder do chifre e serão
pisoteados?’” (Dn 8:13).
Daniel
descreve um poder político-religioso que muda os tempos e as leis de Deus e
persegue (pisa) aqueles que resistem. E tudo
isso está ligado ao santuário de Deus. O pisar em Apocalipse 11 também antecipa
a perseguição dos santos em Apocalipse 13 (Ap 13:5-7, 15-17).
“Pisar”
também é usado no Antigo Testamento para a opressão do povo de Deus pelas
nações inimigas (Is 63:18; Jr 12:10; Dn 7:7, 19, 23; 8:9-13). Sob esta luz, o
pisar por 42 meses aqui parece paralelo às atividades da besta do mar por 42
meses em Apocalipse 13:5-7. Aquela passagem tem fortes alusões à Daniel 7 e seu
retrato de perseguição.
O
conceito da “cidade santa” precisa ser entendida sob a luz de como o Novo
Testamente geralmente lida com as coisas de Israel. Nos tempos do Antigo
Testamento, Deus estava localizado com os judeus no templo em Jerusalém e para
estar completamente na presença de Deus requeria-se dos Judeus que visitassem o
templo em Jerusalém. Assim, havia uma dimensão étnica e geográfica em relação a
Deu nos tempos do AT. Mas no NT a dimensão étnica foi expandida ou
espiritualizada no relacionamento com o Messias de Israel, Jesus Cristo. Pertencer
a Israel estava ligado ao seu Messias (Gl 3:28-29). E a presença de Deus não
estava mais localizada em Jerusalém, mas através do Santo Espírito estava
igualmente presente em todos os lugares (Jo 4:21-24). Assim, a “cidade santa”
neste contexto não deve ser entendida como uma referência a uma cidade literal,
mas Jerusalém como um modelo para todos aqueles que estão em relacionamento com
Jesus, não importa sua etnia nem sua localização geográfica. Através do Santo
Espírito, todos tem igual acesso ao Messias de Israel.
O que
foi dito anteriormente pode ser demonstrado ao se ver como “cidade santa” é
usada perto do fim do livro. Em Apocalipse 21:1 e 10 a “cidade santa” é outro
nome para a Nova Jerusalém. Mas em Apocalipse 21:9, a mesma cidade é chamada de
noiva do Cordeiro, o povo de Deus (cf. Ap 19:6-8). Assim, a cidade santa é usada no
Apocalipse, não para uma cidade literal de Jerusalém mas como uma maneira de
descrever o povo de Deus do NT (Israel), aqueles que são a noiva do Cordeiro,
em relacionamento com Jesus.
Os 42
meses do verso 2 e os 1260 dias do verso três parecem ser o mesmo período de
tempo. Estes números são repetidos em Apocalipse 12:6 (1260 dias) e 13:5 (42
meses). Eles são também o mesmo que os três tempos e meio de Apocalipse 12:4,
cujo número é tomado de Daniel 7:25 e 12:7. No Apocalipse, os 42 meses são
sempre associados com as atividades dos ímpios e os 1260 dias são associados
com as atividades do povo de Deus. Por séculos estes períodos de tempo foram
lidos em termos de um dia por um ano, assim 1260 anos. Veja a explicação do
princípio dia-ano nos comentários sobre o capítulo 12.
No livro
do Apocalipse, o conceito dos “quarenta e dois meses” está nas duas ocorrências
associado com os ímpios (Ap 11:2 e 13:5). Por outro lado, o templo e a cidade
de Deus representam o povo de Deus do Novo Testamento. A cidade santa relembra
o contraste entre as duas cidades na segunda metade do Apocalipse: 1) a nova Jerusalém
(a cidade de Deus e Seu povo) e 2) a Babilônia do fim dos tempos (a cidade de
Satanás e dos ímpios). Aqui a cidade santa representa o verdadeiro povo de Deus
em contraste com o a grande cidade ímpia (Ap 11:8).
Publicado originalmente por Jon Paulien.
Traduzido por Clacir Virmes Junior.
Nota: Para saber um pouco mais sobre esse comentário, leia aqui.
Traduzido por Clacir Virmes Junior.
Nota: Para saber um pouco mais sobre esse comentário, leia aqui.
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